Crianças salvam Velho Caramujo e o molusco lhes conta histórias encantadas
02/05/12 09:00“A Concha das Mil Coisas Maravilhosas do Velho Caramujo” contém aventuras inesquecíveis e me pergunto por onde navegará agora esse molusco secular, que vive grudado nos cascos dos navios.
O livro traz quatro histórias que ele conta a dois primos: “Sereias com Asas”; “Um Búzio Macambúzio no Paraíso”; “O Rinoceronte Punk de Dürer” e “História Maravilhosa do Coro de Corais”.
Foi escrito pela poeta e tradutora curitibana Josely Vianna Baptista e ilustrado por Guilherme Zamoner (Edições Mirabilia, 2000, 20 páginas).
A autora-narradora conheceu o Velho Caramujo quando avistou, em plena tempestade, Julia e Jerônimo, que passavam férias na ilha dos iguanas, acampados numa gruta.
Eles voltavam de um mergulho e naquele momento salvavam o Velho Caramujo, desmaiado na areia, com o casaco de madrepérolas encharcado.
Foi um deus nos acuda: acenderam fogueira, fizeram uma caminha de folhas e até caldo de peixe.
Coleção de objetos
Depois do jantar, com batatas assadas e bananas-da-terra, quando o Velho Caramujo acordou, explicou que vivia no mar para ver, ouvir e contar histórias.
Para não esquecê-las, escrevia-as em sua concha com uma espinha de peixe molhada em tinta de polvo.
Ele apressou-se em mostrar às crianças sua coleção de objetos: concha de ostra, búzio dos recifes, caracol dourado, vieira rosa, cornetinha lusa, catassol da Índia, concha do Ceilão, todos com histórias gravadas neles.
Sereias com asas
Então o Velho Caramujo contou a primeira aventura, sobre as sereias com asas, que engabelavam viajantes com cantigas de ninar.
Até hoje ele não sabe dizer se as viu ou se sonhou com elas. De qualquer modo, sonhou os seguintes versinhos:
“O mundo tem maravilhas, mil ilhas desconhecidas.
Alegrias e tristezas: vidrilhos de brasa acesa.
Podem estar longe ou perto, no silêncio ou no afinado
zunzum que ouvimos dentro de um búzio espiralado.
Pequeninas ou imensas, podem estar adormecidas
num sonho bom que lembramos, ou no que vem de surpresa.”
Julia e Jerônimo ficaram tão impressionados que nessa noite sonharam com “pássaros que nadam, flores que chovem e barracudas dentuças”.
Rinoceronte de Dürer
Durante um tempo, as crianças esperavam anoitecer, e o Velho Caramujo narrava mais uma aventura, como a do rinoceronte punk de Dürer, de 484 anos atrás.
Dürer não conhecia o bicho, mas “resolveu desenhá-lo a partir da história contada por um viajante que tinha estado na terra dos rinocerontes”.
Medusa dos cabelos de cobras
Depois foi a vez da “História Maravilhosa do Coro de Corais”, em que um caracol se vestia de giz para enganar a Medusa.
O caramujo ia ficar enrascado, mas, por sorte, o herói Perseu surgiu e deu fim na criatura.
Despedida
Essa foi a última aventura que o Velho Caramujo contou às crianças antes de se despedir.
Julia e Jerônimo não gostaram nada da notícia, mesmo que de vez em quando os três discutissem, e o molusco tivesse de contar formiguinhas enquanto os dois desenhavam e demoravam para terminar.
As crianças não davam bola quando ele dizia algo assim: “A quem acabar mais cedo eu conto um segredo”.
O Velho Caramujo precisava viajar em busca da concha das conchas, onde estão guardadas todas as histórias do mundo.
Sobre “A Concha das Mil Coisas Maravilhosas do Velho Caramujo”
O livro mistura referências históricas e literárias, traz notas explicativas e é repleto de poesia.
Ganhou o 6º Prémio Internacional del Libro Ilustrado Infantil y Juvenil do Governo do México em 2002.
A obra está esgotada no Brasil, e as Edições Mirabilia não existem mais. Há uma publicação peruana, por Ediciones Ptyx.
Seus editores, Josely Vianna Baptista e o artista plástico Francisco Faria, fecharam a editora, devido às dificuldades de mantê-la.
Josely disse em entrevista que pretende oferecer o livro a editoras grandes. Quem sabe teremos a chance de ouvir o Velho Caramujo de novo?
São mais de mil histórias. Havia noites na gruta em que Julia e Jerônimo não dormiam. Amanhecia o dia, e a aventura não acabava.
Link para livraria de livros usados, em Curitiba:
Links para posts neste blog sobre a autora:
http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/23/ainda-sobre-o-livro-roca-barroca/