Mônica Rodrigues da Costapoesia – Mônica Rodrigues da Costa http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br Comentários culturais para crianças e adultos lerem juntos Mon, 18 Nov 2013 13:23:01 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Crianças salvam Velho Caramujo e o molusco lhes conta histórias encantadas http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/05/02/criancas-salvam-velho-caramujo-e-o-molusco-lhes-conta-historias-encantadas/ http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/05/02/criancas-salvam-velho-caramujo-e-o-molusco-lhes-conta-historias-encantadas/#comments Wed, 02 May 2012 12:00:18 +0000 http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/?p=1154 Continue lendo →]]>

Julia e Jerônimo ao conhecerem o Velho Caramujo, em ilustração de Guilherme Zamoner/Fotos Divulgação

“A Concha das Mil Coisas Maravilhosas do Velho Caramujo” contém aventuras inesquecíveis e me pergunto por onde navegará agora esse molusco secular, que vive grudado nos cascos dos navios.

O livro traz quatro histórias que ele conta a dois primos: “Sereias com Asas”; “Um Búzio Macambúzio no Paraíso”; “O Rinoceronte Punk de Dürer” e “História Maravilhosa do Coro de Corais”.

Foi escrito pela poeta e tradutora curitibana Josely Vianna Baptista e ilustrado por Guilherme Zamoner (Edições Mirabilia, 2000, 20 páginas).

A autora-narradora conheceu o Velho Caramujo quando avistou, em plena tempestade, Julia e Jerônimo, que passavam férias na ilha dos iguanas, acampados numa gruta.

Eles voltavam de um mergulho e naquele momento salvavam o Velho Caramujo, desmaiado na areia, com o casaco de madrepérolas encharcado.

Foi um deus nos acuda: acenderam fogueira, fizeram uma caminha de folhas e até caldo de peixe.

Molusco e sua coleção de objetos

Coleção de objetos

Depois do jantar, com batatas assadas e bananas-da-terra, quando o Velho Caramujo acordou, explicou que vivia no mar para ver, ouvir e contar histórias.

Para não esquecê-las, escrevia-as em sua concha com uma espinha de peixe molhada em tinta de polvo.

Ele apressou-se em mostrar às crianças sua coleção de objetos: concha de ostra, búzio dos recifes, caracol dourado, vieira rosa, cornetinha lusa, catassol da Índia, concha do Ceilão, todos com histórias gravadas neles.

Velho Caramujo e as sereias com asas, em ilustração de Guilherme Zamoner

Sereias com asas

Então o Velho Caramujo contou a primeira aventura, sobre as sereias com asas, que engabelavam viajantes com cantigas de ninar.

Até hoje ele não sabe dizer se as viu ou se sonhou com elas. De qualquer modo, sonhou os seguintes versinhos:

“O mundo tem maravilhas, mil ilhas desconhecidas.

Alegrias e tristezas: vidrilhos de brasa acesa.

Podem estar longe ou perto, no silêncio ou no afinado

zunzum que ouvimos dentro de um búzio espiralado.

Pequeninas ou imensas, podem estar adormecidas

num sonho bom que lembramos, ou no que vem de surpresa.”

Julia e Jerônimo ficaram tão impressionados que nessa noite sonharam com “pássaros que nadam, flores que chovem e barracudas dentuças”.

Rinoceronte do livro

Rinoceronte de Dürer

Durante um tempo, as crianças esperavam anoitecer, e o Velho Caramujo narrava mais uma aventura, como a do rinoceronte punk de Dürer, de 484 anos atrás.

Dürer não conhecia o bicho, mas “resolveu desenhá-lo a partir da história contada por um viajante que tinha estado na terra dos rinocerontes”.

Medusa dos cabelos de cobras

Medusa dos cabelos de cobras

Depois foi a vez da “História Maravilhosa do Coro de Corais”, em que um caracol se vestia de giz para enganar a Medusa.

O caramujo ia ficar enrascado, mas, por sorte, o herói Perseu surgiu e deu fim na criatura.

Despedida

Essa foi a última aventura que o Velho Caramujo contou às crianças antes de se despedir.

Julia e Jerônimo não gostaram nada da notícia, mesmo que de vez em quando os três discutissem, e o molusco tivesse de contar formiguinhas enquanto os dois desenhavam e demoravam para terminar.

As crianças não davam bola quando ele dizia algo assim: “A quem acabar mais cedo eu conto um segredo”.

O Velho Caramujo precisava viajar em busca da concha das conchas, onde estão guardadas todas as histórias do mundo.

Sobre “A Concha das Mil Coisas Maravilhosas do Velho Caramujo”

O livro mistura referências históricas e literárias, traz notas explicativas e é repleto de poesia.

Ganhou o 6º Prémio Internacional del Libro Ilustrado Infantil y Juvenil do Governo do México em 2002.

A obra está esgotada no Brasil, e as Edições Mirabilia não existem mais. Há uma publicação peruana, por Ediciones Ptyx.

Seus editores, Josely Vianna Baptista e o artista plástico Francisco Faria, fecharam a editora, devido às dificuldades de mantê-la.

Josely disse em entrevista que pretende oferecer o livro a editoras grandes. Quem sabe teremos a chance de ouvir o Velho Caramujo de novo?

São mais de mil histórias. Havia noites na gruta em que Julia e Jerônimo não dormiam. Amanhecia o dia, e a aventura não acabava.

Link para livraria de livros usados, em Curitiba:

http://www.livronauta.com.br/livro-Josely_Vianna_Baptista-A_Conha_das_Mil_Coisas_Maravilhosas_do_Velho_Caramujo-Mirabilia-Sebo_Releituras_Centro-Curitiba-277862

Links para posts neste blog sobre a autora:

http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/22/livro-roca-barroca-renova-repertorio-poetico-e-adiciona-historias-ao-imaginario-americano/

 http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/23/ainda-sobre-o-livro-roca-barroca/

 

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Palavras sobre as poéticas de Arnaldo Antunes http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/26/palavras-sobre-as-poeticas-de-arnaldo-antunes/ http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/26/palavras-sobre-as-poeticas-de-arnaldo-antunes/#comments Mon, 26 Mar 2012 10:55:55 +0000 http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/?p=490 Continue lendo →]]> O artista multimídia -está mais na moda o termo “transmídia”- Arnaldo Antunes, do palco, do rock, da MPB e da literatura, com CDs, livros, vídeos e filmes, DVDs, cartazes e instalações, explora os suportes que veiculam palavra, som, voz, imagens, grafismos. Manipula códigos e linguagens. Realiza poéticas que se estendem de uma mídia para outra e subverte sentidos.

Dialoga com as linguagens de ruptura das vanguardas históricas -final do século 19 até anos de 1950- e retoma o fio de Ariadne da literatura em seu curso no tempo.

Falar o canto e cantar o verso

Desde o livro “Psia” (Expressão, 1986), apresenta esse modo de narrativas múltiplas. Ícones pops e palavras de ordem se desautomatizam, o poeta devolve os signos urbanos a quem passa na rua ou vai ao cinema.

 “n.d.a.”, título de seu livro mais recente, é anagrama ou espelho de “DNA” e “nada” e experimentação ao estilo de Duchamp.

Antunes fez certos poemas da forma como as trepadeiras ocupam as paredes do jardim. 

Poema "Crescer"

“n.d.a” (Iluminuras, 2010) parece explorar em vários poemas o procedimento probabilístico de Marcel Duchamp. Mistura linguagens ao produzir poemas gráficos, como os da série de mãos pré-fabricadas, um trocadilho com “hand-made”. A mão-coisa que se faz e desfaz faz parte do homem-coisa e do nome das coisas, objeto de sua arte.

Nos poemas fotográficos, “ready-mades”, achados poéticos falam “das coisas como são”.

 

Capa do livro de Arnaldo Antunes

Tradição

Sua linguagem dialoga com a tradição e com a vanguarda, da poesia concreta, do tropicalismo, da pop art. Relaciona-se com Cummings, Joyce, Cabral, Drummond.

A obra de Arnaldo Antunes está composta por uma linguagem que  representa o Homo semioticus no dizer do poeta Décio Pignatari. Isso quer dizer que o ser humano é sua própria representação em signos, em linguagens das mídias impressa, televisiva e da web, com as quais se lida na trilha sonora do cotidiano, no ofício diário dos escritórios e nos cruzamentos das ruas.

Ao mesmo tempo, intimidade com o sentido. Além da forma plástica, o poeta reformula as próprias “fôrmas” com que modula signos gráficos. É o caso de “ABC”.

Link: http://www.youtube.com/watch?v=B9kUUsqEawY&feature=related

 

A poesia de Antunes é pós-industrial, pós-natureza, uma ironia à era da manipulação do DNA.

Para o filósofo Slavoj Zizek, a ameaça biogenética é uma versão nova e muito mais radical do fim da história que mina os próprios fundamentos da democracia liberal, os avanços científicos e tornam obsoleto o sujeito liberal-democrata livre e autônomo.

Arnaldo Antunes toca neste ponto com suas poéticas.

 Quando põe em cheque a expressão “DNA” e sua relação com a palavra nada, a poesia de Arnaldo Antunes contrapõe-se ao autômato que Zizek afirma que é no que o homem está prestes a se transformar.

Como poesia é mistério, há a chance de resultar em “nenhuma das [respostas] anteriores”.

 

Link da Iluminuras: http://www.iluminuras.com.br/v1/

 

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Ainda sobre o livro “Roça Barroca” http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/23/ainda-sobre-o-livro-roca-barroca/ http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/23/ainda-sobre-o-livro-roca-barroca/#comments Fri, 23 Mar 2012 12:00:01 +0000 http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/?p=476 Continue lendo →]]> O deciframento crítico de linguagens e procedimentos não tem o objetivo de ser a palavra final sobre uma obra, mas o de contribuir para a construção de seu sentido.

Os poemas de Josely Vianna Baptista no livro “Roça Barroca” (CosaNaify, 2011) preservam muitas características do estilo de sua poesia anterior: jorro e multiplicidade de imagens; pendor para o surrealismo e para a exploração do tempo do mito; economia no uso da pontuação gramatical; exploração linguística e plástica da palavra, como no poema “ar”.

No plano semântico, a poeta faz com que o signo tome distância de seu objeto, ou seja, constrói versos ambíguos e difíceis muitas vezes de entender, ultrapassando a ambiguidade essencial da poesia e chegando ao questionamento do significado.

Como na segunda estrofe do poema “reductio”: 

“então reviu em sonho

o berço de menino, o regaço

materno, o abraço proibido

e sua vã memória

converteu-se em

dilúvio”.

Quem é o personagem? Nos poemas anteriores a esse, no livro, percebe-se que é a terceira pessoa do singular masculina e o assunto é o périplo apaixonado, mesmo que seja “o roteiro do error/ (do latim errore):/ viagem sem rumo/ e sem fim…”.

Mais narrativos que em livros anteriores de Josely Vianna Baptista, os poemas de “Roça Barroca” tratam de personagens históricos, como Antônio de Gouveia, que dá título a um deles, e a Cia. de Jesus, e situam-se entre a poética da etimologia e a procura de entendimento sobre “a terra do Brasil”.

Em certos momentos, são líricos, prolongam, como típico nesse gênero, o instante emotivo, como no caso de “da saudade”, que “vem brotar/(soledad)/da própria/rocha”.

A poeta conta como portugueses se misturaram com os nativos brasileiros e representa sincreticamente essa relação no bilinguismo de “Roça Barroca”, como no poema “Pablo Vera”.

Outras obras da autora

Sem a finalidade de listar todos os livros da autora, destaco as obras “Ar” (Iluminuras, 1991). “Corpografia”, em colaboração com Francisco Faria (Iluminuras, 1992). “Os Poros Flóridos” (1995; foi incluído em 2007 em “Sol sobre Nuvens”, Perspectiva), entre outros.

A poeta integrou a antologia “Desencontrários Unencontraries – 6 Poetas Brasileiros”Nelson Ascher , Régis Bonvicino, Haroldo de Campos, Duda Machado, Josely Vianna Baptista, Paulo Leminski,  com traduções para o inglês de Regina Alfarano [ et al.] (Curitiba: Associação cultural Avelino Vieira/Bamerindus, 1995).

Participou da coletânea de poemas “Sol”, edição artesanal por Guilherme Mansur, de “volantes”, como informa Régis Bonvicino em “O Gesto Poético de um Artesão”. Folha de S. Paulo, “Mais!”, 17 de abril de 1994.

São muitas as traduções de Josely, de poetas e prosadores, mas fica para outra vez.

Links para livros da autora: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?isbn=8527307758&sid=62497119613614724683827167

Capa de "Sol sobre Nuvens"

http://www.iluminuras.com.br/v1/verdetalheslivros.asp?cod=96

 

"Corpografia", de Josely Vianna Baptista e Franscisco Faria

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Livro “Roça Barroca” renova repertório poético e adiciona histórias ao imaginário americano http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/22/livro-roca-barroca-renova-repertorio-poetico-e-adiciona-historias-ao-imaginario-americano/ http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/22/livro-roca-barroca-renova-repertorio-poetico-e-adiciona-historias-ao-imaginario-americano/#respond Thu, 22 Mar 2012 12:00:18 +0000 http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/?p=453 Continue lendo →]]>

Sobre a foto acima, consta no arquivo da Folha: “Casa da aldeia Peguaoty, situada dentro do parque Intervales; construída de madeira e palha, edificação segue a tradição guarani”/ Bruno Miranda/Folha Imagem, 2006

 

O livro “Roça Barroca”, de Josely Vianna Baptista, se divide em duas partes. Na primeira, que é bilíngue, a tradutora e pesquisadora transcria o mito guarani “Mbya” de origem do mundo.

“Mbya” é um dialeto guarani.

Na segunda parte do livro, “Moradas Nômades”, a poeta, autora de “Poros Flóridos”, mostra poemas que criou a partir da experiência entre os guaranis que visitou quando realizava estudos para compor esse “Roça Barroca”. Criou-os também inspirada na melodia da linguagem, no fluxo onomatopaico, nos truques das quebras de versos.

Na primeira, a cosmogonia guarani é uma narrativa poética, ou seja, história repleta de imagens, ou metáforas, no meio da narrativa, com passagens apresentadas apenas por justaposição.

O mito é uma narrativa que pertence ao campo da poesia, já que procura formas análogas para descrever o mundo, as relações entre bicho, gente, planta.

Esse tipo de pensamento expresso pela forma de narrar do mito é conhecido como “pensamento sensível”, oposto ao racional linear.

No caso desse mito da criação do mundo, a palavra poética expande seu potencial significante porque é o centro da origem e da religião guaranis.

Segundo a pesquisadora, o mito foi coletado por León Cadogan (1899-1973) entre os Mbyá-Guarani do Guairá, no Paraguai, nos anos 40. São os cantos míticos “Ayvu rapyta’’, que os guaranis repetem em rituais religiosos.

Os cantos são “as primeiras palavras inspiradas”, que os índios guardavam em segredo.

Para eles, o deus dos guaranis, iluminado por seu próprio coração, desdobrou-se de si mesmo abrindo-se em flor. Em outro desdobramento de si mesmo, o deus supremo criou a palavra-alma.

Para Josely Vianna Baptista, os principais conceitos da cosmologia /[cosmogonia] guarani são três.

O primeiro, “os primitivos ritos do Colibri” (“Maino i reko ypykue”), revela o momento da criação, quando tudo era o caos e só havia o pio da coruja sarapintada.

O colibri, “em adejos sobre a fronte do deus, farta de flores, respinga água em sua boca e o alimenta com frutos do paraíso”.

A explicação da autora é em si própria um poema paronomásico, rico em semelhanças sonoras, que dão ritmo à historia.

O segundo conceito origina-se do canto “A fonte da fala” (Ayvu rapyta). É o momento em que o deus “desdobra de si o fulgor do fogo e a neblina que dá vida, a fonte do amor e do som sagrado”.

A fala “aflora” do deus, tem origem divina e por isso é sagrada. Depois vêm “os homens e as mulheres que iriam refletir sua divindade”.

São eles Ñamandu de Grande Coração, Karaí, Jakaira e Tupã, “pais e mães da palavra inspirada que insuflará a alma em seus filhos futuros”.

O terceiro conceito está no canto “Yvy tenonde”, “A Primeira Terra”, que o deus cria com a ponta de seu bastão, junto com sete céus e suas escoras, que são as palmeiras azuis, e com os primeiros animais da Terra.

Então o deus sussurra aos seus o “canto sagrado”, que faz a comunicação entre o divino e o humano.

Josely Vianna Baptista realizou uma grande pesquisa, desde a etnografia, quando visitou uma comunidade guarani, até os estudos linguísticos e poéticos para a tradução.

Um dos principais informantes nessa etnografia, relata Josely Vianna, foi Teodoro Tupã Alves, liderança indígena e professor na aldeia de Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, no Paraná.

Capa do livro de Josely Baptista

 Link da editora: http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/11641/Roça-barroca.aspx

Para conhecer mais sobre os guaranis, siga o link do Instituto Socioambiental (ISA):

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/guarani

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Livro-brinquedo explora função poética do objeto-livro, do computador e da ação de jogar http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/05/livro-brinquedo-explora-funcao-poetica-do-objeto-livro-do-computador-e-da-acao-de-jogar/ http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/2012/03/05/livro-brinquedo-explora-funcao-poetica-do-objeto-livro-do-computador-e-da-acao-de-jogar/#respond Mon, 05 Mar 2012 03:01:05 +0000 http://monicarodriguesdacosta.blogfolha.uol.com.br/?p=212 Continue lendo →]]>

Capa do livro “Aperte Aqui”, do francês Hervé Tullet/ Divulgação

O livro “Aperte Aqui”, do francês Hervé Tullet, tem um mínimo de signos e um monte de significações. Logo se percebe que o autor só podia ser desenhista, colorista, ilustrador e, sobretudo, conhecedor de tecnologias e suas poéticas.

“Aperte Aqui”, da editora Ática (2011), traz uma brincadeira em que o leitor combina um pacto de suspensão da crença com o narrador, que comanda as ações de quem lê.

Quem está com “Aperte Aqui” em mãos precisa agir: apertar bolinhas, tocá-las de leve ou “clicar” nelas repetidamente para que mudem de cor, de lugar, multipliquem-se ou quase desapareçam das páginas.

É possível “clicar” num objeto dentro de um livro?

A brincadeira é essa. O livro faz de conta que o leitor está diante do computador ou engenhoca do tipo touch screen, em interação com o suporte de leitura. O trocadilho poético entre dois meios de comunicação é parte do jogo.

O site de Hervé Tullet mostra bem a razão pela qual o artista é conhecido como o “príncipe da pré-escola”. Há mostras de instalações e eventos com leitores. Tullet já publicou em duas dezenas de países segundo o site. Veja animações curtinhas, como “Blop!”

Link: http://www.herve-tullet.com/fr/boite-30/Blop-films.html

Conforme a capa acima, o design de “Aperte Aqui” é minimalista: em somente três bolinhas, Tullet usa três cores, separadamente, na grande maioria das páginas.

No site, há ainda vídeo com crianças durante leitura: http://www.herve-tullet.com/fr/boite-11/Un-Livre.html

Verbivocovisual

“Aperte Aqui” só falta cantar ou falar para ser “verbivocovisual”, expressão usada por Augusto de Campos a partir dos anos de 1950 para explicar um dos principais procedimentos de sua poesia.

O termo vem de “Klangfarbenmelodie”, ou “melodia de timbres”, de Anton Webern. O poeta paulistano adotou a poética verbivocovisual em “Poetamenos” (1953) e explorou engenhosamente o objeto livro em obras diferentes.

Fragmento “Lygia Fingers”/Reprodução

 

Site de Augusto de Campos: http://www2.uol.com.br/augustodecampos/home.htm

 

Função poética

Função poética não é um bicho de sete cabeças. Toda linguagem tem essa função, de realizar truques ou efeitos e pode se combinar com códigos de naturezas diferentes: a linguagem verbal escrita, a linguagem do computador, a da TV, a do videogame, a linguagem do design. O teórico Roman Jakobson ajuda a entender a função poética, mas essa é outra história.

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