“Caravana - Memórias de um Picadeiro” traz atrações de sempre em circo espetacular
04/05/12 09:00O Circo Roda, parceria dos grupos Pia Fraus e Parlapatões, iniciou viagens pelo Brasil em 2006. Foram a 30 cidades e receberam mais de 600 mil espectadores, segundo a assessoria de imprensa.
Por que razão esse gênero de arte faz tanto sucesso já que as atrações que incluem são repetitivas? A fórmula consiste em apresentar números de cortina, que significam a encenação de piadas de dupla de palhaços, alternados com atrações de pelo menos 400 anos, quando o formato foi se definindo com forma similar à contemporânea.
Faltam dados de recepção dessa estética, análises antropológicas e culturais do fenômeno circo, que ultrapassa fronteiras.
É provável que a invenção do circo novo, como é conhecido fora da tradição dos picadeiros de família, realizado por artistas oriundos de escolas de circo, tenha sido motivada pelo surgimento da performance, que fundiu e expandiu linguagens cenográficas e plásticas.
Se não há respostas definitivas sobre a preferência popular pela arte circense, “Caravana” revela aspectos significativos por meio das esquetes que apresenta.
Esse quarto espetáculo do Circo Roda mistura números de força, destreza e equilíbrio com a dramaturgia do circo teatro, assinada por Luís Alberto de Abreu.
Destacam-se nesse procedimento construtivo os diálogos em formas de quadras populares, dos repentes e da literatura de cordel.
O mérito dos diálogos brilhantes de dois palhaços e a neta de um deles são as rimas afiadas e rápidas, criadas pelo poeta e dramaturgo Abreu a partir da concepção da trama por Beto Andreetta, diretor da Pia Fraus.
Caturrão é um velho palhaço resmungão que rememora o itinerário de sua lona pelo país. Está sempre em primeiro plano no palco e um tanto irritado pelas perguntas insistentes da menina que depois descobre que é sua neta.
A graça está também no exagero com que se autorrepresenta. Ao chorar de saudades, brinca de ilusionismo, tirando lenços de diversos tamanhos do capote. Em seguida, ri de si mesmo.
Parada de mão, monociclo, lira, corda, trapézio são executados ao fundo para representar as lembranças, em geral, comentadas por seu duplo, Catraquinha.
Em cada região, uma característica se sobressai, como números de capoeira na Bahia e de frevo e mamulengos em Recife.
Ao lado da poesia bem falada, figurino e cenografia espetaculares, em jogo de cores sofisticado, e apelo à emoção da plateia, repleta de crianças.
Todos riem durante os 70 minutos de apresentação das atrações que sabem de cor. Não será esse reconhecimento o responsável pela catarse?
Confira o espetáculo e leve as crianças maiores de sete anos. Vai ser uma noite e tanto.
“Caravana” tem direção de Chico Pelúcio (grupo Galpão), cenografia e figurinos de Márcio Medina e iluminação (sensacional) de Wagner Freire.
Elenco: Ronaldo Aguiar, Felipe Oliveira, Gabriela Bernardo, Celso José, Elisangela Ilkiu, Felipe Bellomo, Gabriela Fechter, Hugo Giampietro, Jefferson Negrão, Leticia Leão, Luana Minini, Miguel Ângelo, Nathalia Vieira, Nildo Siqueira, Paulo Maeda, Yuliya Suslova e Zizza.
O Circo Roda tem no repertório “DNA: Somos Todos Muito Iguais” (2010), “Oceano” (2008) e “Stapafúdyo” (2006). Está em cartaz no Sesc Pinheiros até 20/5.
Link:
http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=217101