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Mônica Rodrigues da Costa

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Teatro para quem gosta de teatro político ou o pacto de Fausto não realizado

Por Mônica Rodrigues da Costa
03/05/12 09:00

Samir Yazbek e Helio Cicero em “Fogo-Fátuo”/Foto Fernando Stankuns/Divulgação

A surpresa da peça “Fogo-Fátuo”, com texto de Samir Yazbek, que também representa o protagonista, é a coragem desse personagem. Paradoxalmente se trata de sua própria covardia.

O enredo adapta o mito consagrado pelo poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) à vida contemporânea de um escritor de classe média, que tem sede de conhecimento e é infeliz.

Ele discorda das coisas do mundo, revolta-se com os governos, a política, a economia. Contraria-se com o cotidiano comezinho e com os defeitos humanos.

O espetáculo é minimalista. Há economia de tempo, pois o drama é curto, de 50 minutos. As palavras são calculadas. Os gestos, sutis. Cenário e figurinos são traços.

Arranjado desse modo, o conjunto revela uma espécie de vazio interior, que se projeta sobre o espectador.

A peça parece um filme feito quase todo em plano-sequência. Mostra o diálogo ininterrupto de Fausto e Mefisto (Helio Cicero), com o primeiro em constante apelo à plateia através de um olhar ao mesmo tempo irônico e angustiado.

A não adaptação do escritor é questionada por Mefisto, que lhe sugere desejar coisas comuns, ter um amor, dinheiro, sucesso.

Mas ele quer escrever, quem sabe sobre o próprio Mefisto ou seu desejo de narrar de novo a lenda em que se enreda.

O escritor titubeia, olha para a plateia, volta à sua mesa de trabalho. No fim, desiste, como aquele personagem de Guimarães Rosa, o filho do canoeiro, que não conseguiu tomar o lugar do pai no destino de ficar sempre à imaginária terceira margem do rio.

Essa solução não é explícita, é como a chama movente do fogo. Deixa o espectador em estado de ambiguidade, efeito maior das poéticas.

Na sua aparente desistência, o escritor conforma-se ao estado em que se encontra. A coisa é kafkiana. De que vale um escritor longe de sua mesa de trabalho?

Como pode um escritor desejar algo mais que não seja o ofício da literatura? Longe da escrivaninha, escreveu Franz Kafka (1883-1924), o escritor é esbordoado pelas pinças do diabo.

É nesse ponto que “Fogo-Fátuo” comove e traduz o reconhecimento do público. Todos saem atônitos do teatro.

O mito de Fausto atrai adolescentes pela ousadia de brincar com fogo, de desafiar as forças do mal.

Mas a vida é já tão perversa, e feminina – conforme Goethe escreveu um dia.

Talvez seja por isso que todo pacto demoníaco representado na arte sempre acaba em tragédia.

Ironicamente, Fausto-escritor toma coragem e acovarda-se. O que é bem provável que signifique um gesto de amor e esperança na humanidade.

Adolescentes a partir de 16 anos, acompanhados de seus pais, têm chance de aproveitar as cruéis, mas reais, proposições de “Fogo-Fátuo”.

A direção de “Fogo-Fátuo” é de Antônio Januzelli. A peça tem cenografia de Laura Carone, figurino de Telumi Hellen, trilha sonora original de Marcello Amalfi e iluminação de Osvaldo Gazotti.

Está em cartaz no Sesc Santana. Segue o link:

http://www.sescsp.org.br/sesc/programa/indexbusca.cfm?Atividade_ID=0&Contador=1&Palavra=&Unidade_ID=38&data=0&first=1&olodum=1&page=1

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