Pretos, negros ou pessoas de “melanina acentuada”? O apelido se espalha com a peça de teatro baiano “Namíbia, Não!”
19/04/12 09:00Engraçada, “Namíbia, Não!” coloca em debate o tema da miscigenação no Brasil e suas consequências. A peça mostra uma situação absurda, provocada pelo imaginário Ministério da Devolução, que deseja reparar os danos sofridos pelos negros escravizados, trazidos da África.
Junto com portugueses e etnias indígenas brasileiras, eles compõem hoje o país, de forma majoritária, numa mistura ainda não muito bem resolvida.
A reparação é a seguinte: o governo determina que os brasileiros de pele marrom voltem ao continente de origem, já que seus ascendentes vieram forçados para cá. Para tal finalidade, cria medida provisória proibindo que os cidadãos de “melanina acentuada” permaneçam no Brasil.
O ano é 2016. Dois brasileiros mulatos resolvem se esconder no apartamento de um deles. Intensa, a conversa aumenta a tensão entre os personagens e deixa o público constrangido.
Começa a perseguição a eles logo depois que André (Aldri Anunciação) conta a Antônio (Flávio Bauraqui) que, em entrevista, a assistente social responsável pela organização da viagem de volta à África sugere que ele escolha morar na Namíbia, colonizada (administrada) no final do século 19 pelos alemães.
Com texto de Anunciação e direção de Lázaro Ramos, “Namíbia, Não!” faz uma alegoria do Brasil de hoje.
O comentário irônico sobre o racismo está presente em todos os elementos do drama. Tudo é branco na sala do apartamento onde a peça se instala, desde a cenografia até a iluminação.
A medida provisória é formulada na calada da noite e pega todos de surpresa, como, em geral, ocorre com iniciativas governamentais polêmicas.
Onde se lê Ministério da Devolução, leia-se secretaria municipal da Reparação Social, criada em Salvador (BA) para estimular políticas públicas de inclusão social.
Prato-cheio para a crítica na forma desse teatro baiano, ao mesmo tempo leve e triste porque rememora a história da escravização humana.
A peça integrou a parceria entre o 21º Festival de Curitiba e o Itaú Cultural, que trouxe o espetáculo à cidade de São Paulo na semana passada para o Auditório Ibirapuera.
A recomendação dessa peça indica a idade de 14 anos, mas quem tem 12 consegue entender a trama, acompanhado por adultos.
Eu vi essa peça quando estava em Salvador, ano passado, e sempre falo dela para meus amigos aqui em Belo Horizonte. Aguardo apresentação aqui em BH.
Que legal, legal, Pedro, vale pena ver novamente.