Lobisomem e laboratório de biogenética se combinam em romance de aventura
13/04/12 11:32“Armadilha para Lobisomem” não serve para ninar e assustar criancinhas quando o homem esquisito da lenda pula para a floresta virando lobo em noite de lua cheia. Esse livro, do Luiz Roberto Guedes, traz trama complexa e pós-moderna.
Uma empresa transnacional, corrupta, tem um escritório numa cidade local, São Luís, no Maranhão, e cerca a fera brasílica para sequestrar seu código genético. A armadilha tem olhos verdes e se envereda por uma história de amor.
Tráfico de genes, plantas híbridas que rendem milhões de dólares, captura de lobisomem a qualquer preço. Um mundo fora da ética, repleto de gângsteres.
Tudo porque o livro conta a história das Organizações Platino, que criaram a Orchidea platina, nova espécie derivada de um gene de água-viva que os cientistas do chamado “Império Platino” “insertaram” numa orquídea.
A planta luminosa virou mania planetária. Deu ideia de outros seres – e mais lucro a essa empresa, ainda conhecida como o Laboratório BioPlatek.
Esse ninho de cobras criou seres que mereciam estar expostos num circo: Zebrelho (coelho combinado a zebra), Goldina (galinha que põe ovos dourados), Octo-Plux (minipolvo fluorescente).
Então será a vez de explorar o lobisomem. Acharam esqueleto de criatura esquisita na Chapada do Araripe, com ossos atravessados por bala de prata, o que é típico da lenda do homem que vira cachorro-do-mato.
Guedes compõe metáforas mirabolantes e peripécias de arrepiar os cabelos. Mistura poesia, arqueologia, genética, política, cultura pop.
Só o personagem do lobisomem rende um blog inteiro. O monstro foi descrito de forma inesquecível pelo escritor José Lins do Rego (1901-1957).
O lobisomem de Guedes vive em um romance de mistério e suspense, de leitura veloz. O melhor da história está nas pistas, nas entrelinhas.
O paulistano Guedes domina o jogo de palavras, a paródia, a ironia e a arte de narrar. Escreve um enredo com a técnica da intertextualidade.
Remete o leitor para o cinema de Indiana Jones e de ação, para a MPB, para cenas da literatura, para o imaginário brasileiro.
Quem tem 11 anos vai usufruir de “Armadilha para Lobisomem” (184 páginas).
Guedes parodia o próprio gênero de literatura de aventura e suspense que usa para escrever. No meio da narrativa mitológica, insere o retrato da vida contemporânea.
A pior parte: cinismo, corrupção, corrida desenfreada pelo lucro.
A melhor: avanços científicos, conscientização sobre o ambiente e limites de crescimento, referências, literárias ou não, para o leitor decifrar.
Não precisa dizer que esse livro é um prato-cheio para professores de biologia e de português, redação, comunicação e expressão.
As ilustrações são de Henrique Kipper (fotos).
Da Cortez Editora. A atual edição está no padrão da nova ortografia, segundo Guedes (em vigor a partir de 2013).
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Querida Mônica, fiquei lisonjeado com esse seu olhar penetrante e compreensivo sobre o meu monstro de estimação. Gracias. Abraço.
O lobisomem é um mito instigante, né? 🙂