Livro-brinquedo explora função poética do objeto-livro, do computador e da ação de jogar
05/03/12 00:01O livro “Aperte Aqui”, do francês Hervé Tullet, tem um mínimo de signos e um monte de significações. Logo se percebe que o autor só podia ser desenhista, colorista, ilustrador e, sobretudo, conhecedor de tecnologias e suas poéticas.
“Aperte Aqui”, da editora Ática (2011), traz uma brincadeira em que o leitor combina um pacto de suspensão da crença com o narrador, que comanda as ações de quem lê.
Quem está com “Aperte Aqui” em mãos precisa agir: apertar bolinhas, tocá-las de leve ou “clicar” nelas repetidamente para que mudem de cor, de lugar, multipliquem-se ou quase desapareçam das páginas.
É possível “clicar” num objeto dentro de um livro?
A brincadeira é essa. O livro faz de conta que o leitor está diante do computador ou engenhoca do tipo touch screen, em interação com o suporte de leitura. O trocadilho poético entre dois meios de comunicação é parte do jogo.
O site de Hervé Tullet mostra bem a razão pela qual o artista é conhecido como o “príncipe da pré-escola”. Há mostras de instalações e eventos com leitores. Tullet já publicou em duas dezenas de países segundo o site. Veja animações curtinhas, como “Blop!”
Link: http://www.herve-tullet.com/fr/boite-30/Blop-films.html
Conforme a capa acima, o design de “Aperte Aqui” é minimalista: em somente três bolinhas, Tullet usa três cores, separadamente, na grande maioria das páginas.
No site, há ainda vídeo com crianças durante leitura: http://www.herve-tullet.com/fr/boite-11/Un-Livre.html
Verbivocovisual
“Aperte Aqui” só falta cantar ou falar para ser “verbivocovisual”, expressão usada por Augusto de Campos a partir dos anos de 1950 para explicar um dos principais procedimentos de sua poesia.
O termo vem de “Klangfarbenmelodie”, ou “melodia de timbres”, de Anton Webern. O poeta paulistano adotou a poética verbivocovisual em “Poetamenos” (1953) e explorou engenhosamente o objeto livro em obras diferentes.
Site de Augusto de Campos: http://www2.uol.com.br/augustodecampos/home.htm
Função poética
Função poética não é um bicho de sete cabeças. Toda linguagem tem essa função, de realizar truques ou efeitos e pode se combinar com códigos de naturezas diferentes: a linguagem verbal escrita, a linguagem do computador, a da TV, a do videogame, a linguagem do design. O teórico Roman Jakobson ajuda a entender a função poética, mas essa é outra história.